domingo, 15 de janeiro de 2012

O Indigente


    

  Já era tarde de noite quando percebi que estava perdido. Desci do carro e comecei a caminhar em busca de alguma informação. As ruas estreitas com pouca iluminação encontravam-se desérticas, casas pequenas mal pintadas enegreciam ainda mais minha visão de horror, pois, nem pareciam ser habitadas.
  O céu estrelado formava-se nuvens negras tão devagar quanto uma torneira aberta com a água esvaindo-se por um ralo de uma pia suja. Andava pelas ruas sem nem uma direção em busca de alguma alma viva. Com as esperanças esgotadas agachei repousando-me no meio fio na esperança de encontrar alguma luz. Inclinando minha cabeça para o lado esquerdo notei uma casinha no extremo da rua. Ela era menor que as outras e tinha uma luz acesa numa espécie de varanda, sem titubear fui ao seu encontro na busca de alguém para dar alguma informação.
  O corpo entregue pelo cansaço não impediu de correr até aquela casa, quanto mais corria mais distante ela ficava. Por hora achei que era uma ilusão e fiquei parado no meio da rua que parecia não ter fim. Com as mãos apoiadas nos joelhos respirava fundo para recuperar o folego que havia perdido no trajeto. O desespero batia, somado a vontade de sair daquele labirinto que se formou em minha mente, que já não achava nem meu próprio carro. E aquela casinha que nunca se aproximava.
  Caia gostas do céu, com o passar dos segundos a chuva vinha mais forte. A iluminação que já era pouca acabou conforme os raios caiam. Em plena escuridão sem conseguir enxergar, a cada passo que dava, meu temor aumentava, ate que uma pisada em faço me jogou no chão. O barro estava entre minhas mãos e no impulso e desespero para me reerguer minha perna começou a latejar. A dor era grande arrastei meu troco na direção delas e com minhas mãos de barro e apalpei-as. Um grito ecoou de minha boca, mas nada se escutava apenas a chuva e os fleches causados pelos raios que iluminavam temporariamente a minha visão. O cansaço tomou conta de meu ser, a chuva não cessava. Na espera de uma luz ou da morte adormecei estendido na lama.
  Um tempo se passou fui encontrado quase soterrado na beira de um terreno baldio. O corpo tinha varias mordidas provavelmente dos animais que habitavam nas proximidades do matagal ou algum cão faminto que vaga pelas ruas. A perna machucada já havia virado moradia dos vermes que se proliferavam conforme a tocava. O cheiro de carne podre era tão forte que as autoridades usavam mascaras para poder suportar, sem nem uma identificação fui enterrado como indigente. Por isto, o meu espirito está aqui pedindo para que me enterrem com uma dignidade, para assim, possibilitar o meu descanso. 

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