segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um conto feliz


Toda manhã era a mesma rotina. A mesa do café já estava posta, quando dei conta que já era hora de levantar. O cheiro do bolo de laranja perfumava o ambiente, assim como o do café recém passado pelo coador, podia até imaginar a organização da mesa com os quitutes caseiros. Cambaleante movimentava meu corpo em direção ao banheiro. Diante do espelho fiz uma análise criteriosa de minhas recentes rugas, após lavar meu rosto com um sabonete a base de creme hidratante. Terminado toda fase de higienização me locomovi em direção à mesa do café. Todos os lugares estavam vagos da mesa, poderia escolher qualquer um. Naquela hora já haviam terminado seu café e cada um foi em busca dos seus afazeres. Uma melancolia invadiu meu corpo neste instante ao deparar com aquela visão, mas segui minha própria rotina tomando um copo de leite quente adoçado com mel, e uma fatia média de bolo de laranja.
Estava pronta para ir trabalhar quando vi um bilhete pendurado no refrigerador dizendo que todos foram para o sítio e que estariam de volta na noite do dia seguinte. Foi quando dei conta de que era sábado e estaria sozinha todo final de semana. Resolvi colocar uma música para tentar animar o ambiente e beber umas doses de Whisky puro para entrar num clima festivo com minha solidão. Parecia uma louca rindo e dançando só ao som de Frank Sinatra.
Era quase três horas da tarde quando meu estomago começou e emitir sinais para meu cérebro que estava com fome. Ele ignorava estes, pois estava relaxado com a bebida e apenas a desejava. Acabou a garrafa de scotch quase três horas depois de ser aberta. Resolvi abrir um Cabernet Sauvignon que estava no refrigerador. Neste momento aproveitei e preparei uma tabua de frios com Brie, Gouda e Gruyère, para saciar a fome que já era insuportável. O som tinha parado e com duas ou três fatias de queijos degustadas, adormeci.
Deitada no carpete da sala com duas almofadas de estampas indianas na qual davam suporte a minha cabeça despertava com um barulho que vinha da rua. Sem dar muita importância para este barulho e meu visual que devia estar horripilante, abasteci minha taça vazia com o vinho que restará da garrafa, ligando novamente o som para escutar Sinatra.
Os risos voltaram e nem me dei conta de que estava sozinha. Nunca tinha me divertido tanto com minha solidão. Três garrafas de vinho e já estava transbordando felicidade, mas em alguns momentos um pouco de angustia me envolvia e quando ela vinha uma taça de vinho era o suficiente para espanta-la. Invadi a madrugada bebendo e beliscando os queijos que havia preparado. Assisti um filme de Almodóvar, depois quando o galo já pensava em cantar um documentário sobre Holocausto, por fim, cai em sono profundo.
Dormi tanto que só acordei na segunda. Estava em minha cama e como toda manhã, a mesma rotina. Só que desta vez mesmo com a cabeça pesada vez, ao olhar as rugas crescentes do meu rosto pelo espelho, um sorriso apareceu e pensei: finalmente aprendi a me divertir com a solidão. Indo para mesa de café com uma satisfação conclui estar ansiosa para que chegue logo o próximo final de semana, só que desta vez irei dança e cantarolar ao som de Chico Buarque.

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