Um dia passou
e nada aconteceu. Tudo estava em silêncio, nem um toque do telefone se quer,
nem uma chamada no portão. A noite surgiu fria, mexendo com meus pensamentos e
fazendo com que tudo que havia acreditado foi-se como pó de canela soprado pelo
vento, perfumando temporariamente o ar e as doces lembranças, que já não guardo
mais comigo.
Ao deitar eis
que finalmente surge um ruído, um estranho ruído, que me deixou apreensivo.
Outra vez escuto, mas não um ruído, um grito pedindo socorro. Apenas um grito e
a noite calou-se novamente. Com o chegar da madrugada senti uma tristeza, uma
fuga, um silencio mais profundo do que já tinha sentido. Então o vi de costas,
sem saber se estava rindo ou chorando, se estava bem ou mal. Apenas vi saindo
um vulto calado.
A madrugada
gelada seguia seu percurso. Os devaneios foram decepando com o decorrer dos
minutos. A tranquiladade perdia seu espaço para os sons da rua. Amanhecia e
tinha percebido que fora apenas sonhos, estranhos sonhos que tinham invadido
minha mente durante a noite.
Quando
levantei, no banho quente tive a sensação que alguém me abraçava, sentia
seguro, aliviado, sabia que ali estava não sei como, mas estava. Tocava-me como
sempre era tocado e sentia todo seu afeto e carinho em seu toque. Ao abrir meus
olhos, não via nada além de água quente escorrendo pelo meu corpo levando o
resto de espuma que restara em minha pele. Dei conta de que me encontrava só.
Encostei
minhas costas na fria na parede de azulejos brancos e comecei a deslizar com
meu tronco de encontro com o chão. Minhas mãos buscavam por minhas pernas abraçando-as
fortemente. Já minha cabeça ia apoiando entre meus braços sentindo a quente água
cair sobre minha nuca.
Foi quando pedi para que esta mesma água
quente que aliviasse minhas dores e as levassem junto com os restos de sabão que
esvaíam pelo ralo o gosto, o cheiro, as lembranças e os desejos de estar
contigo, que ainda permaneciam comigo. Mais um dia passou e nada
aconteceu.