Na madrugada ela acordou com
vento frio que invadia seu quarto. Ainda sob os efeitos de medicamentos,
levantou cambaleante, em direção à manta de fibra sintética, que estava meticulosamente
dobrada no assento da poltrona, na outra extremidade do quarto. Em meio aos
tropeços do par de sapatos de couro preto abandonados pelo chão, uma crise neurótica
arrebatou seus pensamentos, e uma ânsia de purificar seu corpo a tomou conta. A
dor veio com o cair da água quente sobre seu crânio raspado e ferido. A cada
toque de fervência uma vermelhidão surgia no corpo pálido e roxo. A sensação de
pele esfolada causada pela alta temperatura era como um tortuoso prazer em
busca do corpo purificado. Saindo do Box
deparando com o espelho embaçado sua mão em movimentos frenéticos buscava por
uma imagem refletida. As marcas visíveis surgiram junto com o seu rosto danificado,
seus olhos inchados lacrimejaram e a boca tremulante só aumentando a visão de
desespero e horror do que fitava. Indignada com a imagem refletida, impetuosos socos
foram de encontro com o espelho, até que ele trincou por completo com alguns
pedaços caído na pia. Os cortes de suas mãos só aumentavam sua insanidade.
Olhando para reflexo destorcido, seu verdadeiro ser aflorou. A beleza se foi, a feiura que tanto escondia abrochou
diante dos olhos mostrando por fora o que era ela por dentro. Não suportando sua
visão que acreditava ser a realidade, uma solução covarde veio em sua mente, da
qual não tem volta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário