terça-feira, 7 de agosto de 2012

A Morte


      Na madrugada ela acordou com vento frio que invadia seu quarto. Ainda sob os efeitos de medicamentos, levantou cambaleante, em direção à manta de fibra sintética, que estava meticulosamente dobrada no assento da poltrona, na outra extremidade do quarto. Em meio aos tropeços do par de sapatos de couro preto abandonados pelo chão, uma crise neurótica arrebatou seus pensamentos, e uma ânsia de purificar seu corpo a tomou conta. A dor veio com o cair da água quente sobre seu crânio raspado e ferido. A cada toque de fervência uma vermelhidão surgia no corpo pálido e roxo. A sensação de pele esfolada causada pela alta temperatura era como um tortuoso prazer em busca do corpo purificado.  Saindo do Box deparando com o espelho embaçado sua mão em movimentos frenéticos buscava por uma imagem refletida. As marcas visíveis surgiram junto com o seu rosto danificado, seus olhos inchados lacrimejaram e a boca tremulante só aumentando a visão de desespero e horror do que fitava. Indignada com a imagem refletida, impetuosos socos foram de encontro com o espelho, até que ele trincou por completo com alguns pedaços caído na pia. Os cortes de suas mãos só aumentavam sua insanidade. Olhando para reflexo destorcido, seu verdadeiro ser aflorou.  A beleza se foi, a feiura que tanto escondia abrochou diante dos olhos mostrando por fora o que era ela por dentro. Não suportando sua visão que acreditava ser a realidade, uma solução covarde veio em sua mente, da qual não tem volta. 

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