Um romance desenvolvido no
período do Brasil colônia,
Danação de Marcus Achiles tem uma história
intrigante mesclando preconceitos, religião, crimes sexuais e o folclore
brasileiro. O livro lançado pela editora Baraúna nos convida a mergulhar na
história do paulista dom Diogo, uma personagem que renegou sua religião em troca de ouro,
na tentativa de reverter à ingrata visita da falência em suas terras. O preço
teve um alto custo, sua alma que a partir deste trato amargava uma grande perda,
seu filho. Na fuga de suas lembranças embrenha na mata aparentemente sem rumo,
com dois de seus escravos um homem e uma criança. Um conflito com índios em seu
percurso rumo à vila de Taubaté o deixou
na beira da morte. João seu escravo o salvou, em nome da gratidão por ter
protegido Inácio seu filho da morte que os cercavam, quando poderia deixa-lo
morrer e fugir na procura dum quilombo em busca sua liberdade. A partir daí
inicia-se uma transformação no relacionamento dono/escravo, mas sempre deixando
bem claro a posição que cada ocupava. O
“justiceiro” chegando a Taubaté depara com o resultado de um pecado, o amor
proibido entre um padre e uma viúva, que gerou mortes misteriosas toda
madrugada de sexta feira, da qual as autoridades locais culpavam os índios e os
caçavam nas matas. Os inocentes pagavam com as suas vidas, por crimes cometidos
por um ser que desafiava o imaginário de qualquer homem sensato. Diante de tais
acontecimentos, Diogo descobriria a missão que fora incumbido de realizar em
Taubaté. Acompanhado também pelo diabo, personificado como uma “criança de
dentes pretos”, que deliciava com as matanças, injustiças, travava com paulista questionamentos sobre a bondade do Senhor, em que o apontava como grande
“carrasco da humanidade”, alegando ser apenas o “coletor” das almas
ambiciosas. Nesta narrativa percebemos realmente a batalha interna entre o “bem e o
mal” da personagem principal e que se estende para os ambientes em que decorre
o romance, questionando a fé e a razão. Outro ponto muito interessante é o resgate da cultura brasileira que
o autor retrata, mesclando fantasia com sentimentos e pecados verdadeiramente
humanos. As injustiças cometidas e a brutalidade nas ricas descrições das
mortes provocam uma indignação no leitor que é saciado com a “justiça”, já
encaminhando para o final de uma história ricamente costurada no mais autêntico
tecido nacional.
Valeu pela resenha, Matos
ResponderExcluirVi pelo skoob que vc estava lendo o "Danação" e achei legal que tenha gostado. Fico feliz também que vc tenha visto que Danação tenta ir bem além de um mero livro de terror.
Abraços
Marcus Achiles