terça-feira, 8 de março de 2011

Sono profundo.

Logo de manhã decidi sair de casa e aproveitar o restante de minhas férias. Numa quinta feira um dia com nuvens espaça, num céu celeste, iluminado por uma luz irradiante que elevava a temperatura do meu corpo com o decorrer das horas. Tudo que precisava era de um bom final de semana a beira do rio que nesta época, sem muitas chuvas, sua água era de um azul tão reluzente quanto o céu acima de minha cabeça. Arrumei em uma mochila algumas peças de roupas, numa cesta levei frutas, enlatados e alimentos não perecíveis, sabia que no chalé havia refrigerador antigo, mas como fazia muito tempo que não frequentava lá não tinha certeza de seu estado. Duas horas de viagem e finalmente estava livre do capitalismo dos grandes centros. O silêncio reinava e o único alarde era os sons da natureza.
No chalé retirei os lençóis brancos amarelados com o tempo que cobria a mobília. O cheiro da  umidade era tão forte que logo fui abrindo as janelas para deixar correr o ar pelo ambiente. Fui descansar no quarto que ficava de frente para o rio e cai em sono um profundo. Quando acordei estava amarrada num lugar de pouca luz, na minha boca havia um lenço com um nó impedindo de emitir qualquer som. Eu estava com o corpo todo dolorido deitada no chão úmido com um cheiro de carne podre que me dava enjôo. Entrei em pânico, uma angústia percorria todo meu corpo rompendo meus pensamentos e desnorteando meus rumos, o cheiro aumentava, assim como o calor.
O silêncio era profundo e aumentava o meu desespero. A fome atormentava meu estomago, a minha boca seca suplicava por água e meu corpo rastejava lentamente como uma cobra a procura de uma presa. Com tempo, cansada e faminta ficava esperando uma luz, que não vinha diante da escuridão e meus olhos se fecharam. Escutei a porta abrir, uma luz branca ofuscou minha visão, alguém se aproximava. A luz era muito forte não dava para ver, os passos cada vez mais próximos, escutei  risos de um homem. Ele aproximou, vi seus olhos negros, seus lábios finos e seus dentes brancos me dizendo bons sonhos. Aplicou algo no meu braço esquerdo, afrouxou as amarradas que me prendia, tirou minha roupa, meus olhos diziam não meu corpo tentava se movimentar até que desmaiei.
No outro dia acordei com cabeça e corpo dolorido, notava que estava nua e sem nem uma mordaça com sede rastejei numa poça e comecei a beber. Senti o gosto de sangue de animal diluído em uma água que com certeza era suja. A sede era tão grande que mesmo com ânsia sequei a pequena poça. Estava fraca e quando me curvei tinha visto uma crosta bordô escorrendo pelas minhas pernas. Em lagrimas pensei fui estuprada, minha vontade de gritar por socorro aumentou, mas como estava fraca e sem voz ninguém me escutaria, nem mesmo o homem que me colocou aqui. O choro brotava meus olhos, minhas mãos tremiam, meu corpo cedia às dores e o cansaço.
A porta abriu novamente, a luz invadiu tão forte que meus olhos mergulharam na imensa brancura. Ele voltou, com um sorriso de canto, perguntava se tinha dormindo bem, se estava com fome, dizia que ia me libertar depois de uns dias era só me comportar, acenei com a cabeça, sorrindo aprovou minha obediência. Desta vez quero que você participe de tudo, dizia ele. Pegou uma vasilha de alumino com água fria e jogou nas minhas partes intimas, tirou sua roupa e deitou sobre meu corpo. Via em seus olhos o prazer que sentia no meu medo, fechei os olhos e na minha escuridão desejei que acabasse logo. As visitas dele passavam a ser frequentes. O meu corpo não aguentava mais, meus ossos começaram a aparecer e ficava cada vez mais debilitada. Após sua última visita adoeci. Quando notara meu estado esbravejou dizendo que não servia para mais nada. Aplicou um líquido em minha veia e como um beijo na testa disse que eu iria fazer uma viagem.
Acordei numa estrada de terra com um casal perguntando se estava bem. Eu pedi por ajuda e quando tentaram me levantar notei que ele havia quebrado minhas pernas. Depois de um tempo no hospital de repouso fui questionada pela policia. Como não conseguia identificar o homem, nem o lugar onde fiquei não havia como investigar e o caso foi apenas registrado.
Fiz terapia por dois anos e não obtendo resultado me internei numa casa de repouso. A única coisa que me intriga até hoje é porque ele me deixou viva. Hoje sou cadeirante tenho vinte seis anos, desde o acontecido não trabalhei mais, mudei de cidade e tenho medo da luz branca. Atualmente faço terapia em grupo e uso de remédios para me acalmar.  Toda noite tenho pesadelos com aquela luz branca invadindo meu quarto junto com a voz daquele homem dizendo que vem me buscar.

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