Senti o
cheiro de mato impregnar minhas narinas, meu corpo devia estar estirando num
gramado falho que com um aroma de terra umedecida. A brisa gelada que esbarrava
em meu rosto esfriava o corpo quente. Mesmo de olhos fechados senti a inexistência
dos raios solares, e não sabia se era dia ou noite.
O vento vinha
cada vez mais forte poderia sentir as folhas secas e seus ruídos beijando na
face e seguindo seu caminho de liberdade.
Tive uma sensação boa de liberdade, como as folhas secas que plainavam
no embalo de um grande sopro gelado. Estava cada vez mais frio, o ar como a
terra ficou úmido, gotas começaram a despencar, no inicio fraca, mas
engrossavam a cada sopro do vento. Em pouco tempo estava encharcado todo sujo
de na lama.
Quando senti
um golpe ou um empurrão, não bem o que foi, mas senti. Com dores juntei forças
para impulsionar e levantei, percebi que meu corpo estava estirado num lugar
estranho, abandonado, desértico. Do gosto do barro pude provar e até insetos me
dei por rejeitar com cuspe. Levantei minha cabeça para água da chuva ingerir e
tirar aquele gosto de barro que quase engoli. O estranho é que a chuva não me
limpava.
O gosto de
barro não saia, sentia os vermes se contorcerem dentro de mim. Desesperando
cuspia constantemente quando olho para um corpo de bruços, vestido de roupas
escuras, não deu para saber ao certo, minha visão encontrava-se turva, ate que notei
a semelhança do par de sapatos escuros com seu revestimento interno cor de
laranja que estavam virados próximo de suas mãos. Nas suas costas havia manchas
que escorria por todo o seu corpo. Como estava com a visão desfocada, aproximei
do corpo, procurei como um mapa até chegar à ferida. Um buraco atravessava seu
corpo, podia imaginar o cheiro podre de carne disputadas por vermes em meio à
poça de lama.
Reconheci-me
e sai correndo em busca de ajuda. Não sabia em que lugar estava, mesmo assim,
desnorteado gritei por alguém. Ao longe vi uma pessoa vestida de branco andando
pela chuva com algo em sua mão. Não pensei duas vezes e corri em direção a ela.
Eu gritava por ajuda e a pessoa parecia não me escutar.
Aos poucos minha
visão voltava e quando cheguei mais próximo vi em sua mão esquerda algo ainda
pulsando. A sussurrar no seu ouvido nada escutou, nem no toque de seus ombros sentiu.
Apressei o passo para vê-lo de frente, fitei seu rosto que era familiar,
parecia estar com lagrimas ou de certo era obra da chuva. Minhas dores
amentaram violentamente e notei que ali se ia embora o grande amor de minha
vida. Na sua mão ensanguentada o órgão parou de pulsar. Ele levou meu coração,
matando qualquer outra possibilidade de amar.
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