Sentindo aquela inquietação de
espirito, a ansiedade deixava meu dia mais extenso. Impaciente a cada dever
cumprido, fitava o relógio rústico pendurado no centro da parede, aflito
constatava que o tempo não passava. No decorrer da tarde o calor estendia. Era tão
insuportável quanto o meu desejo pelo final desta tortura. Cansado há vários
dias sem dormir o desejo pelo final de semana era tão grande quanto à
determinação de Victor na perseguição do demônio. Por fim, acabou meu
expediente. Liberto de um cárcere inicia os preparativos para adentrar em
outro, em que a solidão é meu único carcereiro. Detido, sem sono, varo a
madrugada na busca de descobrir o verdadeiro eu. Na falha de minhas constantes
buscas me perco em alucinações e possibilidades enquanto preparo em uma caneca,
uma bebida quente a base de café solúvel.
Amanheci debruçado na mesa em
cima dum livro autoajuda, segurando a caneca com os resíduos da bebida encrostado
em sua borda. Com forte enxaqueca sem lavar a caneca enchi de água e peguei um
comprimido para aliviar a dor. À noite mal dormida, somado aos efeitos do
comprimido deixaram minha mente ainda mais confusa. Minhas alucinações corroíam
minha mente sensata e a loucura tomou conta de meu ser. Fora de controle ansiei
por algum meio para de silenciar vozes que passei a escutar incitando-me a retaliação.
No colapso de minha extrema loucura talhei minhas orelhas uma de cada vez com a
navalha afiada que usava para me barbear. A dor absurda não foi o suficiente
para deixar de escutar as vozes que me pedia para cortar minha língua. Então
lhes propus um acordo. Cortaria minha língua se elas desaparecessem. Sem
esperar pela resposta num súbito surto cortei minha língua e a ofereci como
oferenda.
As vozes desejam cada vez mais e iniciei
a minha mutilação. Na cabeça passei tão rente a navalha no meu couro cabeludo
que ele ficou em carne viva. Minha visão estava vermelha com tanto sangue que
escorria transportando para meu próprio inferno. Já me sentia fraco, mas as
vozes não paravam de falar, de gritar, de mandar e ódio tornava o combustível de
minhas forças. Sentado no chão quase abraçando minhas pernas cortei os dedos
dos pés um de cada vez e me livrei da mão esquerda. As vozes por fim cessaram e
uma satisfação tomou conta de mim. A fragilidade do meu corpo me derrubou com
completo. Em lagrimas devido a grande dor física, fui voltando ao meu estado
normal e deparando com a mutilação que cometi. Engasgando com meu próprio veneno,
meu estado de sanidade corrompeu a uma ultima loucura e decapitei em com
dificuldade o que já havia perdido.
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