Duma escuridão horripilante submerge o ser que leva meu coração cravado
num punhal prateado. Lutando contra própria morte, peço socorro, mas ninguém
escuta. O vazio invade minha alma, enquanto a razão desesperada busca uma
solução para recuperar o coração que sangra no punhal deixando rastros de dor.
Minha voz tremula emitiu um som esquisito, um grito ecoou no silêncio profundo.
Nem um sinal de vida, minhas esperanças escoavam pela vala do esgoto.
Até que meu olhar já enegrecido detectou uma luz que não saberia dizer se é
benéfica ou maléfica, mas foi a única coisa que apareceu. Sem questionar suas
intenções agarrei com toda força a mão estendida. Mão que com um notável
impulso me levantou, seguido de uma doce voz que invadiu meus ouvidos dizendo
“estou aqui”.
A sensação de não estar mais só passou. A esperança voltou a brotar em
minha alma e a visão enegrecida aos poucos se libertava das trancas que fechavam
as janelas voltadas para a vida. O coração sangrando no punhal esboçou uma
reação positiva emanada pela esperança. Esta que percorria o esgoto foi
regressando renovada e impulsionada pela vontade de viver. Como o ser humano é
carente, basta uma mão estendida para as trancas começarem a ser removidas,
pensou minha razão.
A partir dai, instalou-se uma batalha interna em minha mente, mas o
desejo de ter o domínio dos meus sentimentos falou mais forte. A obsessão de
reconquistar meu coração me fez agarrar na única ajuda, sem dar muita razão a
razão, ainda com uma visão turva deixei-me guiar pela mão. No caminho
percorrido janelas foram se abrindo e portas fechando, a dificuldade apareceu e
a mão milagrosa perdeu seu encanto.
Enquanto isto, o coração ainda perfurado pelo punhal aos poucos foi
regressando a sua inconveniente dor. O sangue estancado não escorre mais pelos
caminhos percorridos, a negridão ocupa o lugar que era de um vermelho vivo. Não
suportando tamanha dor, afasto da pessoa que me estendeu a mão e levo comigo
seu coração espetado num punhal de prata. Com isto, regresso a minha escuridão,
depositando em minha coleção mais um coração partido. No infortúnio ser que me
transformei, tento trocar os corações que roubei pelo meu roubado.
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