Tic, tac, tic, tac, tic, tac o barulho era constante.
Nada se escutava a não ser aquele barulho irritante do relógio antigo de moldura dourada
que estava na sala de jantar. Não suportando mais levantou e com apenas um
golpe no relógio tudo acabou. A proteção de vidro desmanchou no seu punho. Um
sutil estalido foi de encontro com chão deixando rastros de sangue na sua mão
direita. Na sequência de seu ataque de fúria pisoteou até ter a certeza de que
não seria mais incomodado.
O silêncio reinou pleno, com a destruição daquele
objeto insuportável regressou para meu leito. Ao repousar seu corpo escutou
algo, não pode ser o relógio o barulho é diferente, tum tum... tum tum...tum tum...de
onde será que esta vindo este som. Desejava o silêncio, precisava de silêncio, sem
ele não conseguiria descansar. Precisava dar um fim neste barulho. Procurando
em todos os lugares sem nem um sucesso e exausto sentou numa cadeira de mogno
com forro de cetim bordô gasto e rasgado com o tempo.
O barulho tinha mudado,
estava acelerado. Foi quando notou que o som saía de dentro do seu corpo. Bruscamente
se dirigiu para a cristaleira na busca de algo pontiagudo para perfurar seu
corpo e acabar com este som insuportável. Transtornado e com as mãos tremulas segurou
o perfurador de gelo e contra o peito começo a se perfurar. Furava seu peito
como se estivesse quebrando um bloco de gelo. Com a carne perfurada o barulho
parecia estar mais intenso, o sangue escorria pelo seu corpo, no chão já
formava uma poça. Em três severos golpes atingiu o coração. Finalmente o
silêncio voltou, sua expressão de felicidade foi a ultima coisa que vira
refletida no espelho da antiga cristaleira. Deitado no chão envolto de um lago de
sangue finalmente o tempo parou, a dor passou e encontrou a paz que tanto
desejava.
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