sexta-feira, 18 de maio de 2012

O homem da luz branca


Antes de a Lua iluminar o céu, já tinha um sentimento ruim sobre aquela noite. Lá estava ela cheia como uma lanterna gigante iluminando os caminhos de quem se arriscava sair naquela escuridão. Os morcegos já davam rasantes na busca de alimento e os cães ladravam sem parar a cada ruído que escutavam nas ruas desérticas. Com medo resolvi sair, afinal tinha dado minha palavra e não ia voltar atrás. Cheguei ao local, dez minutos antes da hora combinada. Senti uma brisa gelada me arrepiar por inteiro, pensei em desistir, mas não serei uma covarde.
O era tanto que medo me dava falta de ar, as mãos tremiam quando o sino da igreja matriz bateu marcando meia noite. Olhe para os lados e nem um sinal de vida, apenas dos morcegos que esporadicamente vinham me assustar. Nem Virginia e nem Allan, covardes, mas aqueles dois me pagam amanhã, pensei comigo.
Sem titubear peguei o caminho de volta para casa, as ruas escuras e desérticas só davam mais medo. Foi quando o vi pela primeira vez. Estava lindo em trajes branco e uma luz cândida refletia ao seu redor. Com um sorriso e a mão estendida me hipnotizou e quando dei por mim já me encontrava a sua frente. Ele me tomou pelo braço e começamos a caminhar. Suas mãos eram frias, mas tinha um sorriso largo e doce que encanta qualquer um. Notei que estava voltando para o mesmo lugar que havia marcado com meus amigos.
Paramos em frente à casa velha mal assombrada, em que aconteceu a maior tragédia da cidade. Logo na frente havia um jardim, a ausência de vida reinava. Ornando o local havia apenas sete cruzes de madeira velha banhadas em tinta branca, uma para cada integrante da família assassinada. Ele me puxou pelo braço em direção à porta desbotada pelas chuvas e desgastada pelo tempo. Ela estava aberta e vi os restos de moveis quebrados entulhados em um dos cantos que deveria pertencer à sala. O teto esburacado permitia a entrada da luz emitida pela Lua.
O piso de madeira rangia a cada passo dado, minhas pernas tremiam de tanto medo. Paramos em frente de outra porta, ele não abriu, mas imaginava ser de algum quarto. Ficamos ali parados naquela porta, senti sua mão apertando tão forte que tentei me livrar. Foi a primeira vez que me dirigi a ele pedindo para soltar minha mão. Olhou nos meus olhos e com um sorriso não soltou, apenas parou de apertar. Perguntei o que queria e nada disse. Tentei sair correndo mais sua força era superior a minha. Comecei a chorar e gritar por socorro, ninguém escutava. Ele ergueu sua mão pesada e um tapa foi dado em meu rosto. Podia sentir a ardência da marca de seus dedos em minha face.
As lagrimas junto com o medo começaram a ser mais nítidos. Puxando pelo braço entramos no quarto todo destruído e no criado mudo de mogno apodrecido pela chuva, persistia um retrato intacto de uma mulher de cabelos escuros semelhante a mim. Tentei fugir de seus braços, mas já me encontrava abraçada de frente com ele. Seus olhos me penetravam e imobilizava minhas reações. Petrificada com os olhos cheios de lagrimas fiquei a espera de algo que veio pelas costas, um suspiro de dor e meus olhos se fecharam, para nunca mais abrir no plano físico.
Hoje estou aqui incorporada neste corpo para contar minha história e tentar impedir que este monstro leve mais vidas por conta de sua vingança. Até que uma pessoa da roda questionou-a “por que ele está fazendo isto?” Por vingança, respondeu ela. Ele sabe que estou aqui. Ele veio me buscar. Vocês tem que impedi-lo, continuou com uma voz alterada pelo nervosismo.
Uma luz branca invadiu a sala de jantar junto com uma ventania que apagou todas as velas brancas posicionadas em forma de circulo com uma folha e uma caneta no seu centro, sobre a mesa. Um grito e um súbito silêncio. Ao ascenderem às luzes, notaram que no papel estava escrito apenas um nome: Emily Austen.
O mais idoso que estava presente no local arregalou os olhos ao olhar as letras no papel, recordou do desaparecimento de Emily. O velho era Allan seu amigo de adolescência, o mesmo que marcará com ela e Virginia naquela noite de seu desaparecimento. Com os olhos vermelhos e segurando a emoção contou que Emily desapareceu há mais de 50 anos e foi dada como morta dois anos após seu sumiço. Atormentado pelas recordações disse que precisava ajuda-la, fechou os olhos soltando todo seu peso sobre a mesa. Assustados levaram o velho para o hospital, sete horas depois apareceu Virginia que fazia plantão naquela noite confirmando sua morte por enfarte. 

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