Antes
de a Lua iluminar o céu, já tinha um sentimento ruim sobre aquela noite. Lá
estava ela cheia como uma lanterna gigante iluminando os caminhos de quem se
arriscava sair naquela escuridão. Os morcegos já davam rasantes na busca de
alimento e os cães ladravam sem parar a cada ruído que escutavam nas ruas
desérticas. Com medo resolvi sair, afinal tinha dado minha palavra e não ia voltar
atrás. Cheguei ao local, dez minutos antes da hora combinada. Senti uma brisa
gelada me arrepiar por inteiro, pensei em desistir, mas não serei uma covarde.
O
era tanto que medo me dava falta de ar, as mãos tremiam quando o sino da igreja
matriz bateu marcando meia noite. Olhe para os lados e nem um sinal de vida,
apenas dos morcegos que esporadicamente vinham me assustar. Nem Virginia e nem
Allan, covardes, mas aqueles dois me pagam amanhã, pensei comigo.
Sem
titubear peguei o caminho de volta para casa, as ruas escuras e desérticas só
davam mais medo. Foi quando o vi pela primeira vez. Estava lindo em trajes branco
e uma luz cândida refletia ao seu redor. Com um sorriso e a mão estendida me
hipnotizou e quando dei por mim já me encontrava a sua frente. Ele me tomou
pelo braço e começamos a caminhar. Suas mãos eram frias, mas tinha um sorriso
largo e doce que encanta qualquer um. Notei que estava voltando para o mesmo
lugar que havia marcado com meus amigos.
Paramos
em frente à casa velha mal assombrada, em que aconteceu a maior tragédia da
cidade. Logo na frente havia um jardim, a ausência de vida reinava. Ornando o
local havia apenas sete cruzes de madeira velha banhadas em tinta branca, uma
para cada integrante da família assassinada. Ele me puxou pelo braço em direção
à porta desbotada pelas chuvas e desgastada pelo tempo. Ela estava aberta e vi os
restos de moveis quebrados entulhados em um dos cantos que deveria pertencer à
sala. O teto esburacado permitia a entrada da luz emitida pela Lua.
O
piso de madeira rangia a cada passo dado, minhas pernas tremiam de tanto medo. Paramos
em frente de outra porta, ele não abriu, mas imaginava ser de algum quarto.
Ficamos ali parados naquela porta, senti sua mão apertando tão forte que tentei
me livrar. Foi a primeira vez que me dirigi a ele pedindo para soltar minha
mão. Olhou nos meus olhos e com um sorriso não soltou, apenas parou de apertar.
Perguntei o que queria e nada disse. Tentei sair correndo mais sua força era
superior a minha. Comecei a chorar e gritar por socorro, ninguém escutava. Ele
ergueu sua mão pesada e um tapa foi dado em meu rosto. Podia sentir a ardência
da marca de seus dedos em minha face.
As
lagrimas junto com o medo começaram a ser mais nítidos. Puxando pelo braço entramos
no quarto todo destruído e no criado mudo de mogno apodrecido pela chuva, persistia
um retrato intacto de uma mulher de cabelos escuros semelhante a mim. Tentei
fugir de seus braços, mas já me encontrava abraçada de frente com ele. Seus
olhos me penetravam e imobilizava minhas reações. Petrificada com os olhos
cheios de lagrimas fiquei a espera de algo que veio pelas costas, um suspiro de
dor e meus olhos se fecharam, para nunca mais abrir no plano físico.
Hoje
estou aqui incorporada neste corpo para contar minha história e tentar impedir
que este monstro leve mais vidas por conta de sua vingança. Até que uma pessoa
da roda questionou-a “por que ele está fazendo isto?” Por vingança, respondeu
ela. Ele sabe que estou aqui. Ele veio me buscar. Vocês tem que impedi-lo,
continuou com uma voz alterada pelo nervosismo.
Uma
luz branca invadiu a sala de jantar junto com uma ventania que apagou todas as
velas brancas posicionadas em forma de circulo com uma folha e uma caneta no
seu centro, sobre a mesa. Um grito e um súbito silêncio. Ao ascenderem às
luzes, notaram que no papel estava escrito apenas um nome: Emily Austen.
O
mais idoso que estava presente no local arregalou os olhos ao olhar as letras
no papel, recordou do desaparecimento de Emily. O velho era Allan seu amigo de
adolescência, o mesmo que marcará com ela e Virginia naquela noite de seu
desaparecimento. Com os olhos vermelhos e segurando a emoção contou que Emily
desapareceu há mais de 50 anos e foi dada como morta dois anos após seu sumiço.
Atormentado pelas recordações disse que precisava ajuda-la, fechou os olhos
soltando todo seu peso sobre a mesa. Assustados levaram o velho para o
hospital, sete horas depois apareceu Virginia que fazia plantão naquela noite
confirmando sua morte por enfarte.
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